Como estava previsto, estamos nesse momento vivendo a realidade da dengue. Ainda que essa epidemia nem se compara em números e repercussão ao que se viveu na epidemia da covid-19, ainda assim, ela inspira muitos cuidados pela sua enorme morbidade e risco de agravamento.
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Nesse momento, vivemos um dos piores momentos dessa doença no país e no Estado. Segundo o painel de dados da dengue da SES/RS, totalizamos hoje mais de 25 mil casos confirmados, o que dá uma incidência de mais de 340 casos por 100 mil habitantes em nosso Estado.
No início do mês, o estado de São Paulo – que normalmente é bem mais acometido – decretou estado de emergência (incidência de 311 casos por 100 mil habitantes); dessa vez foi o RS que o fez.
Lembremos que existe seguramente uma enorme subnotificação de casos. Muitas pessoas se infectam e não têm sintomas. Ou tem sintomas leves e mesmo com febre não procuram serviços de saúde. Portanto, temos que pensar na doença e testar. Quanto mais testagem, mais diagnósticos, para isso é necessário ações do poder público, mas também a compreensão da população e a atuação dos serviços de saúde na suspeita da doença.
Letalidade e o número real
Como na epidemia da covid-19, quanto mais casos houver, mais pessoas terão risco de internação, com mais internação, maior risco de morte. Hoje, o RS já contabiliza 25 óbitos atribuídos à dengue. A grande maioria deles em idosos acima de 60 anos, faixa etária não compreendida nos estudos de vacina e, como tal, estratégia preventiva que não está, e não estará tão cedo, disponível no programa nacional.
Importante que se diga que desconhecemos a real taxa de letalidade da doença no Brasil. Com tantos novos diagnósticos – mais de 1,8 milhão de casos prováveis de dengue – há, porém, um elevado número de mortes “sob investigação”, mortes em que há indicativo de que foram causadas pela dengue, mas sem confirmação oficial, fator que pode subestimar agressividade da atual epidemia.
Há mais mortes “em investigação” que as mortes conhecidas pela doença. E isso é inadmissível – óbitos em investigação não podem levar muito tempo para ter uma definição.
Reinfecção e sinais de gravidade
Ter a doença mais de uma vez eleva os riscos de internação e até causar mortes. A infecção por um dos quatro sorotipos do vírus da dengue pode deixar a pessoa com imunidade contra o agente causador daquele sorotipo, mas isso pode não durar tantos meses assim.
A pessoa adquire imunidade temporária e parcial mesmo contra os outros sorotipos, mas por alguns meses apenas. Ocorre que a infecção com um sorotipo, seguida por outra infecção com um sorotipo diferente, aumenta o risco de agravamento da doença.
Esse agravamento se manifesta por sintomas severos que podem levar ao “choque da dengue”, forma grave da doença que ocorre por conta da perda de líquidos dos vasos para outras partes do corpo e com consequente queda da pressão arterial.
Os ditos “sinais de alarme”, como a presença de vômitos persistentes, dor abdominal, sangramentos e queda de pressão costumam preceder esse estado de “choque da dengue”.